sexta-feira, 30 de abril de 2010

Duelo de gigantes (ou de anões?)

Peça em 3 actos:
1.º acto: O Sr. Coelho e o Sr. Pinto, há muito inimigos figadais, combinam um encontro mais ou menos amistoso. No fim o Sr. Pinto afirma que foram atacados por gambozinos sem fundamento, mas, apesar dessa falta de fundamento, vai fazer já coisas para acalmar os gambozinos que pensava só fazer para o ano e que o Sr. Coelho lhe dera sugestões com o mesmo fim, que ele ia ponderar. O Sr. Coelho confirmou o acordo, excepto que omitiu que o ataque não tivesse fundamento, certamente por no seu íntimo pensar que tinha e até era merecido porque o Sr. Pinto não tinha mantido a quinta limpa.
2.º acto: No dia seguinte, de manhã o Sr. Teixeira afirma, na mesma linha do Sr. Pinto, que algumas obras na quinta terão de ser ponderadas, já que a venda de ovos e feijões tinha rendido pouco e não havia dinheiro, mas que a situação melhoraria se os gambozinos fossem metidos na ordem.
3.º acto: Na tarde do mesmo dia, quando os espectadores já pensavam o espectáculo acabado, vem o Sr. Mendonça dizer que todas as obras se farão como combinado porque a quinta precisa, com excepção dum pequeno remendo num muro, mesmo de todas as obras.
Cai o pano.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Novas sobre a crise

A reunião entre Passos Coelho e Sócrates parece desmentir a minha desconfiança de ontem sobre a possibilidade de um entendimento entre o PM e o líder da oposição. Sem dúvida que foi importante e que foi um golpe de génio de Passos Coelho promover o encontro logo após as notícias da revisão em baixa da notação pela Standard & Poor's. Apesar de não terem saído notícias sobre novas medidas que ajudem a combater a crise, nomeadamente os défices públicos elevados e o endividamento externo, há uma esperança que as reuniões e consultas prometidas venham a ter alguns resultados positivos. Pelo menos, Sócrates não classificou as sugestões de Passos Coelho como "uma mão cheia de nada". Claro que as esperanças têm de ser mitigadas, uma vez que o PM, ao falar nas medidas a tomar, só falou nas já conhecidas, tudo se resumindo a um adiantamento de 2011 para 2010, quando este ano já vai tão adiantado, e sobre as medidas propostas pelo PSD apenas referiu que as vai ter em consideração. Mas o encontro em si com discursos não antagónicos pode ter um pequeno efeito de acalmia dos mercados.
Mais do que o encontro, acho muito positivo o anúncio feito hoje de que a concessão da auto-estrada do Pinhal Interior foi cancelada. É o primeiro sinal da viragem sobre a política suicida dos investimentos megalómanos e economicamente ruinosos.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Estado de emergência financeira

Portugal entrou num verdadeiro estado de emergência financeira, após o último golpe que foi a degradação da notação da Standard & Poor para A-. Digo "último golpe" até agora, que não sabemos o que virá mais.
Tavares Moreira, cujos pertinentes comentários no Quarta República leio regularmente com atenção, admira-se, com razão, do apelo ao entendimento com o PSD feito pelo Ministro das Finanças, após ter desdenhado, do modo deselegante como o fez, da proposta de redução da despesa em 1700 M€.
Perante esta proposta do PSD , o PM chegou a dizer que já estava tudo no PEC! Com tal tendência para a mistificação, não creio que mesmo perante a presente iminência de naufrágio Passos Coelho e Sócrates se cheguem a entender. Talvez haja um fingimento de entendimento, mas temo que não seja nada real, infelizmente.

Pois

Era mesmo ignorância...

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O ataque dos especuladores

No passado dia 7, ao escrever o postal "Portugal, Grécia e os especuladores", perguntava como são em concreto os célebres "ataques dos especuladores" que podem pôr em perigo as nossas finanças e até, segundo alguns, a nossa permanência no euro. Perguntava humildemente e confessava os meus conhecimentos fracos de economia e nulos de finanças internacionais. Infelizmente ninguém me respondeu e fiquei na mesma ignorância até ler o jornal i do dia 20. Dizia:
Agora já sei mais um pouco. Só me pergunto, com poucas esperanças de que alguém me responda, porque há tanto temor nos ataques dos especuladores, que parece que quando abocanham uma moeda ou um país nunca mais o largam até à agonia, quando afinal para atacarem precisam de três coisas: no caso de atacar por via dos CDS, 1) comprar grandes quantidades CDSs do título que pretendem atacar num momento tranquilo do mercado; 2) esperar que o sentimento do mercado se altere (ou provocar a alteração através de notícias, afirmações ou boatos) no sentido de subida da percepção do risco do título; 3) vender; no caso de atacar por via do próprio título, 1) vender a descoberto a um preço elevado; 2) esperar que o mercado se altere ou provocar a alteração como no caso dos CDSs; 3) comprar barato e vender ao preço combinado mais elevado. Em ambos os casos a situação do mercado terá de piorar, ou os especuladores arriscam-se a perder dinheiro. Assim explicado, já me parece que compreenda, mas não supunha que por esta via se pudesse pôr em risco seriamente a situação financeira de um país. Será que na situação em que nos encontramos a situação ainda pode piorar? É certamente ingenuidade minha perguntar.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Desequilíbrios

Não resisto a transcrever o postal de Pinho Cardão na 4R "A desconfiança de Bruxelas" sobre os desequilíbrios da economia portuguesa:

« A desconfiança de Bruxelas

A Comissão Europeia está a torcer o nariz ao nosso PEC. Natural. É que, numa conjuntura já de si desfavorável, não é com remediozinhos de faz de conta que se tratam os nossos graves desequilíbrios orçamentais.
O primeiro grande desequilíbrio é o enorme diferencial entre as Receitas Totais e a Despesa Total, que deu o largo défice de 2009 e o que o Governo anteviu para 2010.
O segundo grande desequilíbrio é que não se cumpre o que alguns chamam a “regra de ouro das finanças públicas”, que consiste em défice não exceder as Despesas de Capital, isto é, o Investimento. Mas excede e tem excedido, com raras excepções, nos últimos anos.
O terceiro grande desequilíbrio é que as Receitas não chegam sequer para pagar a Despesa Corrente, mesmo não incluindo nesta os juros. Como resultado, temos que nos endividar até para pagar os juros.
O quarto grande desequilíbrio está no facto de as Receitas da Segurança Social apenas pagarem metade das respectivas Prestações Sociais. Assim, o Orçamento de Estado tem que consignar verbas da ordem dos 18 mil milhões de euros para a Segurança Social (2009 e 2010).
O quinto grande desequilíbrio está no nosso endividamento público, que vem a subir de forma dramática. Não contando o endividamento escondido nas PPPs, nas empresas públicas deficitárias, no Fundo da Electricidade, nos Hospitais empresarializados e deficitários.
O sexto grande desequilíbrio está na política do Governo que fez de 2010 um ano similar, em termos orçamentais, ao de 2009, empurrando as decisões para o futuro, o que só agravará as penosas medidas a tomar.
O sétimo grande desequilíbrio é que o Governo anda perdido e, com a cabeça na areia, e não vendo o que se passa, continua a dizer que a nossa economia vai bem, uma das melhores entre as da União Europeia.
É, de facto, no Governo, que está o nosso maior desequilíbrio. Ele constitui o nosso grande défice.
posted by Pinho Cardão @ »

É difícil dizer melhor em tão poucas palavras sobre a situação em que a incompetência do governo pôs o País. Haverá PEC que nos valha?

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Portugal, Grécia e os especuladores

Tem-se discutido muito a responsabilidade dos especuladores financeiros na crise que, com início nos EUA, ainda mostra duramente os seus efeitos e, mais recente e especificamente, na crise grega e na dos outros países do Sul da zona euro. Agora diz-se que os especuladores “atacaram” a Grécia, põe-se a hipótese de o verdadeiro alvo dos ataques dos ditos especuladores ser não a Grécia mas sim o euro, teme-se que logo que os gregos consigam com o seu plano de austeridade amansar os ataques, os referidos especuladores se poderão voltar para o segundo elo mais fraco, ou seja Portugal.

Pouco percebo de economia e nada de finanças internacionais. Confesso que não sei o que são os “ataques dos especuladores” nem o que eles fazem de concreto. Que podem fazer os famosos especuladores para baixar o valor de um título? Podem vendê-lo em grandes quantidades ou abster-se de o comprar. Não sei que mais podem fazer nos seus "ataques". O mesmo para uma moeda. Se são títulos de dívida, como os títulos soberanos, compreendo que qualquer pessoa que tenha dinheiro para emprestar deseje receber o máximo rendimento e evitar ao máximo o risco, o que por vezes exige um equilíbrio difícil. Também compreendo que o mecanismo da oferta e da procura (uma das poucas coisas que sei de economia e que me foi ensinado há muitos anos pelo Prof. Pinto Barbosa na cadeira de Economia no IST) leva naturalmente a que seja mais difícil vender dívida de retorno duvidoso e que portanto os financiadores exijam uma taxa maior. Será isto especulação? Também compreendo que na dúvida de um retorno dos seus investimentos, os investidores tentem vender os títulos que os suportam. Será isto especulação? A mim só me parece bom senso.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Astrologia e pena de morte

Não acredito na astrologia. Penso que se trata de uma superstição antiga mas sem sentido, que a ciência moderna contradiz e que o senso comum não aceita. Grandes figuras e até cientistas acreditaram, mas hoje os conhecimentos científicos retiram-lhe qualquer base de verosimilhança. Acho lamentável que revistas sérias e programas de televisão lhe dêem espaço para divulgação. Creio firmemente que muitos astrólogos fazem da sua actividade um negócio, mas eles próprios, na sua maioria, são demasiado inteligentes para crer nas patranhas que debitam.


No entanto fiquei chocado ao ouvir hoje a notícia de que um libanês foi condenado à morte na Arábia Saudita por decapitação por ter apresentado na televisão árabe um programa de astrologia. Sou contra a pena de morte. Sou ainda mais contra a pena de morte do que contra a divulgação da astrologia. Não há métodos aceitáveis para matar e acho ridícula a controvérsia que existe nos Estados Unidos da América sobre a maior ou menor crueldade dos métodos de concretizar a pena de morte. Contudo a decapitação repugna-me particularmente e espanta-me que ainda seja exercida legalmente em alguns países. Por isso, por muito que não acredite na astrologia e até possa dizer que ache detestável o aproveitamento de pessoas crédulas para espalhar esta pseudo-ciência e fazer dinheiro (seja fazendo consultas pagas, seja para vender revistas ou promover audiências), defendo, nas esteira de Voltaire, o direito de o fazer sem represálias. E especialmente quando a represália é a pena de morte e em particular quando esta é exercida por decapitação, acho que seria de esperar uma campanha internacional contra esta injustiça.

Início de operação do LHC no CERN

Não sei para que serve, não sei que vantagens trará, nem sequer tenho conhecimentos suficientes para compreender o que pode resultar em termos de conhecimento científico, mas sei que o avanço da ciência é uma das maravilhas da humanidade e que compreender a natureza nos enriquece. Por isso é com regozijo que tomei conhecimento do reinício, depois da reparação da avaria que teve lugar no ano passado, da operação do Large Hadron Collider (LHC) em Genebra, tendo-se registado os primeiros choques de protões acelerados a velocidades próximas da da luz (e não à velocidade da luz, como afirmado e reafirmado por jornalistas que não sabem que a velocidade da luz é inatingível por corpos com massa), cuja observação, por meio dos numerosos aparelhos de análise, poderá fazer avançar o conhecimento da física das partículas.