domingo, 21 de dezembro de 2008

Clarividência

Acabo de ler no Público de hoje a crónica de António Barreto "Tudo como dantes, nada como dantes".

http://jornal.publico.clix.pt/default.asp?url=cronista.asp%3Fimg%3DantonioBarreto.jpg%26id%3D288833%26check%3D1

Um texto de uma clarividência quase arrepiante, lúcido, incisivo, quase cruel.
Conheci António Barreto nos anos 60, principalmente durante a crise académica de 1962, e já então fiquei a apreciar a sua lucidez e frontalidade, frutos não só de uma grande inteligência mas também de uma honestidade que o levam a não contemporizar com a necessidade de ser "politicamente correcto".
Depois de muitos anos sem saber dele, eis que tive notícia do seu regresso a Portugal e à actividade política. Actualmente continuo a ler regularmente as suas crónicas e a concordar com quase tudo o que diz. Descomprometido, desassombrado, dá-se ao luxo de dizer o que pensa.
A crónica de hoje não poupa os políticos. Sem particularizar, não se inibe de afirmar: "Os governos, a começar pelo português, têm dado lições inesquecíveis que todos os manipuladores do mercado usam como inspiração. Mentira, leis retroactivas, mudança inesperada de regras, intrusão na vida privada dos cidadãos, instabilidade fiscal, falta de cumprimento de cláusulas contratuais, adjudicações de favor, licenças sem concurso público, favoritismo e nomeações de altos dirigentes por confiança partidária, tudo tem justificação, tudo se explica pela necessidade de vencer, de crescer e de ganhar eleições."

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Bela tradução, Feliz Natividade

Na caixa de um presépio Made in China à venda no Corte Inglés pode ler-se as seguintes indicações que pretendem ser em português:

"Colecão da Natividade
- ojogo de 9,inclui
-1 cenario pintado mão da natividade
-mão de 8 pces. figurine feitos

Não para criancas sob 3 anos velho"

Se a língua portuguesa é a 5.ª mais falada no mundo, será assim tão difícil achar alguém que possa traduzir devidamente do original ou corrigir a tradução?

Irlanda e Tratado de Lisboa

Como era de prever, a Irlanda foi obrigada a ceder e prometeu fazer novo referendo sobre o Trtado de Lisboa até ao fim de 2009, a troco de promessas de resolver os assuntos que se supõe serem mais polémicos e terem sido a razão do "não" maioritário no primeiro referendo: Assim foi nomeadamente prometido que a Irlanda manterá o seu comissário e que não será obrigada na modificar as suas leis que penalizam o aborto e a eutanásia.
Segundo uma notícia, que não ouvi repetida por mais nenhuma fonte, a manutenção do comissário não será exclusiva da Irlanda, mas sim de todos os 27. A ser verdade será a única solução lógica; não se entenderia que, apesar da redução do número de comissários, apenas a Irlanda visse o seu lugar assegurado. Mas então isso não implicará uma alteração do tratado que terá de ser novamente aprovado e ratificado por todos os estados? E se houver mais países aderentes à UE no futuro, será que estes também terão um comissário cada?

Mas o que mais me chocou foi a notícia dada pelo correspondente da RTP em Bruxelas, José Esteves Martins que declarou: "A reunião começou com uma boa notícia: a Irlanda prometeu repetir o referendo até ao fim de 2009." Parece-me uma grave falta de ética jornalística designar esta notícia como "boa". A mim e a muita gente parece uma má notícia. O jornalista não deve emitir juízos de valor sobre o que lhe parece bom ou mau, deve limitar-se a informar.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Anjos e sexo

Continuo sem saber se os anjos têm sexo, se é que existem anjos. Mas acabo de ver, através do blog arte+arte, que recomendo vivamente, várias imagens de anjos que, se é verdade que não me elucidaram, deixaram-me algumas pistas.

Veja-se este anjo.

Parece-me evidente que é do sexo feminino.
Mas agora veja-se este:

Este já me parece mais masculino.
Mas este último quadro de Moreau tem mais um pormenor interessante: O anjo tem nitidamente umbigo. Que significará isto? Que os anjos são vivíparos?

Agora a sério, só me parece que cada artista pinta os anjos conforme a sua imaginação lhe dita. Porque afinal os anjos são fruto da imaginação, penso eu.
E confesso que há problemas muito mais importante do que estas divagações.

Nota: Os quadros foram reproduzidos do blog indicado.

Praxes

Li agora mesmo com muito agrado a notícia de que o Instituto Piaget foi condenado a pagar uma indemnização no caso da aluna vítima de praxes degradantes. Tenho seguido o caso, assim como outros semelhantes, e as primeiras decisões de absolvição e de arquivamento deixaram-me espantado e revoltado. Agora finalmente considero que foi feita justiça.

Não sei que tradição existe nas praxes que se praticam no Instituto Piaget, mas mesmo uma longa tradição não justifica práticas aberrantes e humilhantes como as descritas neste caso e noutros. Se a tradição justificasse tudo, ainda teríamos pena de morte e escravatura. Mas sei que em Lisboa a ocorrência de praxes é recente e não tem qualquer tradição. Quando estudei no IST os caloiros eram acolhidos por uma Semana de Recepção aos Caloiros em que o evento principal era o Baile de Recepção aos Caloiros. Tudo cordial e simpático. Uma geração mais tarde, os meus filhos já foram vítimas de praxes que consistiam principalmente em pinturas na face. Não chegavam às torturas e humilhações que agora se descrevem, mas mesmo assim ficaram revoltados e chocados por terem sido obrigados a estas práticas contra vontade. Temo que quando os meus netos chegarem à Universidade, se lá chegarem, as praxes sejam ainda mais refinadas e absurdas. A não ser que a divulgação destes casos leve pelo menos a um abrandamento. Assim espero, mas os argumentos que neste caso foram adiantados pela escola e pelo tribunal de primeira instância, e a descrição de que a aluna praxada teve de mudar de escola e de cidade porque "era alvo de frequentes ofensas e insultos por ter denunciado o caso" não permite grandes esperanças.
A dignidade desta aluna que depois de tantas derrotas não desistiu do caso por ter a convicção da sua razão merece o maior louvor.